Conheça Maryam Mirzakhani, a primeira mulher a receber a Medalha Fields e a quem o Dia Internacional das Mulheres na Matemática homenageia
Maryam nasceu no Teerã, em 12 de maio de 1977, filha de Zahra Haghighi e do engenheiro elétrico Ahmad Mirzakhai. Quando criança, ainda no Irã (e durante o conflito do país com o Iraque), sonhava em ser escritora. Por influência do irmão mais velho, principalmente no último ano do Ensino Médio, passou a se interessar por ciências em geral.
Nesta época, irmão lhe contou sobre o problema de somar números de 1 a 100: “Acho que ele leu em um jornal científico popular como Gauss resolveu esse problema. A solução foi bastante fascinante para mim. Essa foi a primeira vez que gostei de uma solução bonita, embora não conseguisse encontrá-la sozinha.”
Aos 17 anos, tornou-se a primeira mulher iraniana a ganhar uma medalha de ouro na Olimpíada Internacional de Matemática, em Hong Kong. No ano seguinte, em Toronto, a primeira iraniana a atingir tal feito duas vezes consecutivas. Segundo Maryam, como adolescente, ela gostava do desafio, “de pensar em questões mais difíceis“, mas o mais importante foi conhecer muitos matemáticos e amigos inspiradores na Universidade.
“Quanto mais eu dedicava tempo à matemática, mais animada eu ficava.”
Cursou Bacharelado em Matemática na Universidade Tecnológica de Sharif, no Irã, e se formou em 1999. Durante esse tempo, foi reconhecida pela Sociedade Americana de Matemática por seu trabalho no desenvolvimento de uma prova para o teorema de Schur.
Mudou-se para os Estados Unidos, onde, em 2004, concluiu PhD na Universidade de Harvard sob orientação do medalhista Fields de 1998, Curtis T. McMullen. Sobre a influência de McMullen, Maryam disse que ficou “fascinada com a forma como ele conseguia tornar as coisas simples e elegantes”, passando a questioná-lo e a pensar nos problemas que surgiam dessas discussões.
Sua tese foi sobre superfícies hiperbólicas, mas também estudou geometria algébrica, geometria diferencial, sistemas dinâmicos, probabilidade e topologia de baixa dimensão. Como professora, trabalhou na Universidade de Princenton entre 2004 e 2008. No último ano, foi convidada para exercer a profissão na Universidade de Stanford.
Em 2014, foi premiada com a Medalha Fields por “suas excelentes contribuições para a dinâmica e geometria das superfícies de Riemann e seus espaços de módulos”, tornando-se a primeira mulher a receber a maior honraria da área matemática. Os espaços de módulos têm geometrias ricas e surgem de maneiras naturais e importantes na geometria diferencial, hiperbólica e algébrica. Há também conexões com física teórica, topologia e combinatória:
“Acho fascinante que você possa olhar para o mesmo problema de diferentes perspectivas e abordá-lo usando métodos diferentes.”
A Medalha Fields é uma premiação concedida para dois, três ou quatro matemáticos com menos de 40 anos. A condecoração acontece no Congresso Internacional da União Internacional de Matemática (IMU), realizado a cada quatro anos. É considera como um Prêmio Nobel.
Quando ganhou a medalha, Mirzakhai já realizava sessões de quimioterapia devido um câncer de mama descoberto em 2013. O tumor acabou espalhando para o seu fígado e ossos. Maryam faleceu em 14 de julho de 2017, como apenas 40 anos, deixando marido Jan Vondrák (matemático tcheco e professor em Stanford) e filha do casal, Anahita.
Vários tributos foram publicados em honra a Maryam Mirzakhani. O principal deles, como resultado de uma iniciativa realizada pelo Comitê de Mulheres dentro da Sociedade de Matemática Iraniana, o Conselho Internacional para a Ciência concordou em declarar o aniversário de Maryam Mirzakhani, 12 de maio, como Dia Internacional das Mulheres na Matemática em respeito à memória da gênia matemática iraniana.
Fontes: The lives they lived, em inglês, The New York Times. Os trechos atribuídos a Maryam foram retirados desta entrevista da matemática para o jornal The Guardian, em 2014. Leia a matéria completa aqui (em inglês).